O presente trabalho parte da premissa de que práticas culturais musicais constituem formas potentes de comunicar a/na cidade, através de experiências sensíveis de seus atores. Nessa direção, interessa-nos refletir sobre tais práticas como mediadoras de modos de ocupação do espaço urbano, através das socialidades e visibilidades que engajam, configurando experiências comunicacionais, no sentido remetido em Sodré (2014, p. 11), da Comunicação como organização de “partes dispersas”, que coloca algo “em comum”. Na reflexão proposta neste texto, inserida no campo da Comunicação Urbana (Caiafa, 2017), parte-se da noção do espaço como encontros de trajetórias (Massey, 2008) a fim de investigar, no âmbito de cenas musicais presentes na cidade do Rio de Janeiro, uma relação ainda pouco explorada entre o gênero musical rock e territorialidades ditas “periféricas”. Em geral, o rock não é um estilo associado a públicos de subúrbios e favelas dessa metrópole, sendo estes mais comumente lembrados nos discursos hegemônicos por fruir e produzir gêneros como funk, rap e samba, em suas diversas variações, perspectiva que se enquadra em divisões simplificadoras da cidade pelas quais, através de estigmas e generalizações, impede-se uma visão mais complexa de suas populações e práticas culturais. No entanto, é possível apontar a existência, nessas territorialidades, de articulações propositivas e ativistas em torno da música rock, agenciadas para/na sua produção e fruição ou, ainda, aliadas a ações socioculturais nesses espaços, como é o caso de grupos e coletivos identificados como de amadores e produtores de rock que buscam fomentar o gênero desde seus locais de origem. Interessa-nos, portanto, discutir essas associações através de um mapeamento cartográfico (Latour, 2012) a partir do acompanhamento de perfis, na rede social Instagram, de três desses grupos: Rockeiras da Maré, do Complexo de Favelas da Maré; CDD Rock Baile, do bairro de Cidade de Deus; e Rock de Rua Realengo, do bairro de mesmo nome, na Zona Oeste da cidade.