Este trabalho investiga a presença da tradição tarreghiana em São Paulo entre 1890 e 1907, com foco na trajetória do violonista valenciano Praxedes Gil-Orozco. Atuante em meio a redes migrantes, Gil-Orozco integrou uma circulação de saberes violonísticos que antecede a chegada de discípulos diretos de Francisco Tárrega ao Brasil, como Josefina Robledo, em 1917.
Ao considerar a chamada Escola de Tárrega não como doutrina rígida, mas como um conjunto de práticas musicais compartilhadas, busca-se evidenciar os conflitos simbólicos que atravessaram o campo do violão na São Paulo da virada do século XX: disputas por legitimidade estética, silenciamentos historiográficos, negociações de pertencimento e reconfigurações da escuta. A pesquisa articula fontes primárias (jornais, registros civis, documentos associativos) com bibliografia historiográfica e musicológica, propondo uma leitura que recoloca esses sujeitos no mapa cultural da cidade.
A figura de Gil-Orozco, em particular, revela as ambiguidades e tensões desse processo: por muito tempo identificado erroneamente como cubano, encarnou formas de pertencimento negociadas no espaço urbano, que combinaram performance musical, ensino do instrumento, comércio de violões, fabricação de cordas e participação ativa em redes associativas. Mais do que antecipar cronologias, a proposta busca deslocar os marcos tradicionais da história do violão no Brasil, iluminando formas de resistência, reinvenção e mediação articuladas a partir das margens.
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