Sibe2025: Música e conflito social. Paradigmas, abordagens e desafios da etnomusicologia contemporânea
6-9 nov. 2025 Barcelona (España)
O mercado dos festivais de forró na Europa e desigualdades sociais interregionais no Brasil
Rute Da Cunha Benigno  1, *@  
1 : Universidade de Aveiro = University of Aveiro
* : Autor correspondiente

O forró é uma prática performativa patrimonializada no Brasil e vem, nas últimas duas décadas, passando por intensos processos de transnacionalização e mercantilização em contexto europeu. Os festivais de forró podem ser considerados a máxima expressão desses processos, agregando forrozeiros vindos de diversos países da Europa e artistas brasileiros em turnê. Enquanto no Brasil as diferentes vertentes da tradição forrozeira se veem distanciadas e preservam um alto grau de autonomia, como descrevem Dias e Dupan (2022), os festivais de forró na Europa promovem pontos de contato e conflito entre essas vertentes. Embora o forró esteja associado discursivamente a uma suposta identidade regional do Nordeste brasileiro, como refere Albuquerque Júnior (2011), observa-se nos festivais de forró na Europa uma predominância de práticas artísticas e de rituais de consumo identificados com o Sudeste brasileiro, incluindo a própria configuração destes eventos. Com este trabalho, pretendo identificar e analisar tensões associadas aos discursos sobre autenticidade e territorialidade no mercado dos festivais de forró na Europa. Discuto como o uso das categorias “forró do Nordeste” versus “forró do Sudeste” refletem e nutrem conflitos associados a desigualdades sociais históricas, desde a migração de trabalhadores nordestinos para o Sudeste em busca de melhores condições socioeconômicas. Assim, pretendo, por um lado, perceber a categorização territorial do forró como instrumento político de reivindicação de grupos sociais historicamente desfavorecidos, enquanto, por outro lado, refletir sobre como esses processos de categorização, na ótica de Gutiérrez (2011), e de vontade de verdade, na perspectiva de Foucault (2002), desconsideram um espectro amplo de diversidade cultural das tradições forrozeiras.



  • Poster
Cargando... Cargando...