Esta comunicação apresenta resultados de uma pesquisa em andamento sobre cantautoras negras em Portugal e no Brasil, focalizando seus percursos biográficos e produções audiovisuais em diálogo com os regimes racializados e generificados de representação (Hall, 2016) que atravessam os campos musicais nos dois países. A partir de uma abordagem interseccional (Collins, 2019; hooks, 2019; Kilomba, 2019), a análise revela continuidades e inflexões locais nas formas de inscrição das identidades negras femininas na música popular contemporânea luso-brasileira. Um ponto em comum é a centralidade da performance como espaço de disputa simbólica, em que essas artistas articulam sonoridades, visualidades e corporalidades que reconfiguram estereótipos historicamente associados à mulher negra.

Do ponto de vista empírico, serão privilegiadas as dimensões sonoro-imagéticas das heranças africanas e as formas de elaboração da corporalidade nas composições, videoclipes e apresentações ao vivo de Sara Tavares, Selma Uamusse, Iza e Luedji Luna. A proposta dialoga com debates etnomusicológicos recentes sobre gênero, sexualidade e feminismo (Koskoff, 2014; Sugarman, 2019), bem como sobre raça e diáspora (Agawu, 2003; Mahon, 2019). Nesse sentido, a análise busca compreender como essas cantautoras — ao cruzarem vivências migratórias, histórias familiares e estratégias artísticas — não apenas performam alteridades, mas constroem novas gramáticas de pertença e de enunciação antirracista no espaço público contemporâneo.